15/11/2011

O meu problema

Queridos amigos,

O meu problema é que gosto de tudo. Gosto de todos os estilos, chique, boémio, romântico, formal e informal, de estilos inominados (mas “estilosos”) e, sobretudo, gosto de misturar estilos. Também gosto dos anos 60, dos 70, dos 80 (não sei porquê, os 90 não me dizem nada). Gosto de brilhos, de lantejoulas, gosto de me enfeitar, de encher os braços de pulseiras, não consigo andar sem brincos nas orelhas, gosto de misturar jóias com bijutaria, colares de diversas proveniências e feitios.

Gosto mesmo de tudo.



Claro: não gosto do que é ordinário, abimbalhado, brega, não gosto das coisas azeiteiras / pirosas / kitch (ou o que lhe queiram chamar), também me vejo incapaz de aderir ao gótico ou a coisas estranhas.

De resto gosto de tudo e não tenho preconceitos em relação a nada, na única condição que respeite o meu corpinho, muito valioso, até porque a intimidade está prevista no Código Civil, mas vem antes dele.

Salvando isto, o meu problema é que gosto mesmo de tudo. E como diz a minha irmã mais velha "não se pode ter tudo". Pois não, mas eu até gostava....

Admiro imenso aquelas pessoas com um estilo enxuto, muito clean, “less is more”, sóbrias, sempre na mesma onda de classe discreta, porque me transportam para valores de estabilidade, solidez de carácter e essas coisas todas.

Mas eu não sou assim e pronto.

Gosto de misturar vestidos clássicos com botas texanas, gosto de misturar blusas de renda com calças de ganga, gosto de vestir vestidos românticos com blusões motoqueiros de cabedal, gosto de blasers de lantejoulas, gosto de sobreposições de todo o tipo e feitio e gosto de vestidos curtos sobrepostos em saias de renda que me lembram as combinações maravilhosas da minha avó e também gosto de saias compridas com chapéus de homem. Chapéus, boinas, gorros, uso por necessidade mas também … gosto!

Não se preocupem que não sou uma overdressed, nem uma árvore de Natal porque não me permito, nem gosto, de excessos: não usarei brincos compridos com colares exuberantes e não vou sair à rua com um blaser de lantejoulas e umas calças de setim brilhante (a parecer que saí directa do “saturday nigth fever”). Gostava só para ver a reacção, que havia de me rir a sério mesmo.

Sei exactamente o que preciso de vestir quando tenho reuniões importantes e estou a representar o escritório (não me permito arriscar um milímetro) e sei sempre o que hei-de vestir em cada dia. Há muito tempo que não me debato com o “não sei o que hei-de vestir hoje”. Nem sempre as inspirações são as melhores e tem dias que a coisa não corre bem, mas o ano tem 365 dias e não é grave. De quando a coisa não corre bem, hei-de contar aqui algumas histórias para se rirem.

Vem a propósito do “meu corpinho” a seguinte história (tenho histórias para 10 anos de blog, pois há situações em que, por vários motivos, entro em órbita, no verdadeiro sentido da palavra e tenho reacções inesperadas).

Isto passou-se era eu uma garota novata. Andava à procura de um fato de banho e resolvo entrar numa loja da Av. da Liberdade (já fechou), alta costura, desço ao andar de baixo para ver os ditos cujos já com ideia de não comprar ali porque não ía certamente investir uma fortuna num simples fato de banho.
Percebi que eram todos para cima de 60 contos (ainda não estávamos no euro) e pergunto à menina mal encarada (estilo empregada de loja cara que não faz fretes a pobretanas): os fatos de banho são todos deste preço?
Ela responde com ar de admiração que “claro que sim!”, como se aquele fosse o preço normal, com ar enfadado de quem não quer aturar quem não tem ar de que vai comprar.
É neste momento que eu, não sei como, entro em órbita e respondi-lhe de imediato: “obrigadinha, mas fatos de banho para o meu corpinho só acima dos 100 contos”.

E agora chega que já aqui vai muita literatura e não têm tempo de ler este testamento.

Aos que conseguiram chegar aqui, vai um beijo da vossa

Maria


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