29/05/2015

Adolescentes: que lhes dizer?

O mundo seria perfeito se coincidisse (i) o que pensamos dizer, (ii) o que dizemos efectivamente  e (iii) o que as pessoas percebem. Mas quase nunca coincide. O mundo da comunicação entre as pessoas é muito complexo, muito rico e muito divertido e desde que tenho a Bonbon que me apercebo que a comunicação entre os animais é infinitamente mais simples e transparente.
O que dizer a uma adolescente que teima em fazer uma tatuagem de caveira nos ombros, um piercing à vaca no nariz, usar um biquini fio-dental ou que simplesmente usa maquilhagem que a parece fazer ter 40 anos?
Antes de tudo, é necessário investir. Em quê? Investir na educação dos filhos e dos adolescentes em geral. Parece-me que é o melhor investimento "material" porque é um investimento que tem sempre retorno com juros (e a falta de investimento também se paga muito caro, caro de mais). Às vezes não é possível explicar as coisas porque os filhos têm uma visão e uma "experienciação"diferente  (no caso dos adolescente é muito massificada e eles não gostam de se sentir diferentes dos outros: todos conhecemos o argumento do "todos têm" ou "todos fazem").
Às vezes não é uma coisa fácil, mas as coisas preciosas têm um preço elevado que vale a pena pagar por elas.
Nestas situações o que sobra sempre é falar. Falar só se deve falar em último lugar, acho eu. O que faz falta em primeiro lugar é perguntar e fazer as perguntas certas. Que perguntas? As perguntas necessárias para perceber. Perceber e compreender e pôr-nos no lugar, nas circunstâncias, na idade, no pensamento, nas aspirações dos filhos até chegar a perceber porque é que para eles é importante querer (ou dizer que querem) pôr um piercing que os vai assemelhar a um bovino. Ou porque é que querem, com 14 anos, usar batom vermelho e "cat eye liner" e tacões de 12 centímetros.
O mais importante para ajudar é compreender. Se nós não compreendermos o porquê, as causas, nunca, mas nunca mesmo vamos conseguir ajudar. Ponto.
A seguir vem o acreditar. Acreditar. Acreditar. Em quê? No simples e objectivo facto de que os filhos (e os adolescentes) têm uma coisa dentro da cabeça que é uma massa cinzenta que os faz raciocinar, mesmo que a evidência seja a ausência total de cérebro, pensar e chegar à verdade. Muitas vezes a culpa é dos pais que querem atalhar caminho e dão aos filhos o prato com a comida já mastigada. Isso não ajuda. Porque a diferença tem de começar dentro deles, não vem de imposições exteriores. Para chegarem a algum lado, os adolescentes têm de parar, têm de pensar, têm de questionar, têm de concluir. Nem que para isso tenham de tropeçar e, às vezes, magoar-se.
Por último, às vezes é preciso falar, dizer coisas, fazer afirmações e quase nunca é só "porque sim". Temos de mostrar o porquê e, para isso, temos de saber nós as razões. Os pais que não sabem o que querem da vida não podem ensinar os filhos, os pais que não são felizes, não conseguem criar filhos felizes (e a felicidade nunca é  o"tudo a correr bem"). Finalmente, os pais que não sabem o que é bom para os filhos, não conseguem formar os filhos porque isso é impossível e muitas vezes se confunde o que se quer para os filhos com aquilo que é melhor para os filhos. Para não falar dos pais (divorciados ou não) que usam os filhos como moeda de compra ou de venda de agressões entre si.
Ás vezes as opções mais justas dos filhos são as que mais custam aos pais, mas aceitá-las faz parte do nosso percurso de vida e do nosso amor pelos filhos. Porque os pais têm necessidade de continuar a "educar-se" a si próprios continuamente até porque não aprender é morrer.
O "porque não" nunca é uma razão que motive os filhos a actuarem de acordo com o que é melhor para eles. O cuidado no que se diz, como se diz, onde se diz talvez ajude a passar a mensagem. Um "é feio" talvez seja melhor do que o "fica-te mal" ou o curto e grosso"não gosto".
Nós temos de nos continuar a educar sempre. E a paciência é uma coisa que existe e que nos leva longe e nós temos de ter consciência disso.
É tempo. E o tempo é escasso e o melhor luxo é vivê-lo da melhor forma possivel

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