31/01/2012

Quando toca os ossos, até ao tutano.

Queridos Amigos,
Este é um texto que escrevo compulsivamente, a um dia de convidar todos a fazer parte deste espaço, com o melhor que têm - na cabeça e na imaginação – e de, com isso, serem catapultados para uma esfera mais elevada, a de  deixar o rasto de ajudar os outros e de eu, com imenso gosto, me desfazer de duas coisas de que gosto imenso e que certamente farão alguém feliz.


Este é um espaço de moda com gostos que são sempre – modéstia à parte –  do melhor que há, em tudo, desde a Patek Philippe até aos melhores sapatos do mundo e não me eximi de mostrar aqui aquela passagem de modelos da Chanel num ambiente de luxo em que nada se poupou, num ambiente dos marajás das Índias e falei dos anteriores, dos luxos de Bizâncio às maiores riquezas do império dos grandes czares da Rússia. De vestidos em que cada pedra, cada pérola é cuidadosamente cozida à mão por mestres artesão em milhares de horas de trabalho paciente e cuidado.
E gostava de ter um Patek Phillippe porque, como diz na sua publicidade, nunca nos pertence porque o seu dono é sempre a geração seguinte. E também gostava de ter uma Birkin da Hermés, que também  iria passar para a geração seguinte, seguramente. Mas também não vivo para isso nem penso que seja menos sem isso, nem vou fazer tudo para ter uma Birkin nem ando obcecada por isso.
Mas hoje senti os efeitos da crise de forma tão crua que me chegou, como o frio destes dias, até aos ossos. E amo esta crise. Amo o facto de ter de me agarrar ao amor que existe dentro de mim e de o dar aos outros por não haver mais nada para dar. Amo o que esta crise me faz crescer e o desprendimento a que me obriga e amo a pessoa melhor em que me posso transformar. Amo esta crise porque, depois dela, eu serei uma pessoa melhor porque a dor me pode transformar nessa pessoa.
Vem-me à cabeça o que nos animam no desporto: “a dor é boa!”, “Se não dói não tem resultados”, “se não dói não fica com bunda dura!” “a dor não está nas pernas, está nas cabeças, conseguem mais!” “Ultrapassem os vossos limites” E olho para o lado e vejo um com tantos quilos em cada perna que me vêm à imaginação… instrumentos de tortura da plena idade barbárica, época para que também me transportam as tatuagens que lhe cobrem o corpo todo.
Mas isto é mesmo assim, sem dor não há resultados e eu acredito que vou ser uma pessoa melhor depois de passar por esta onda gigantesca cuja queda desconheço totalmente e que não é o abismo porque acredito no amor que há em quem me criou e que me sustenta e que não me larga e que, por isso, esta onde me vai levar para um sítio que eu não conheço mas que é seguramente um sítio melhor. E vejo a dor nos outros e ofereço-a por isso também, para que ela se transforme em mel em vez de fel e que, no fim, “os atire” para um sítio melhor do que aquele aonde estão agora.
E no meio disto, precisamente hoje que a crise me tocou até aos ossos e chegou-me ao tutano. recebi uma daquela mensagem, que se costumam mandar por mail e que correm meio mundo. Mas esta – da minha querida Sandra – vinha a agradecer: ao marido por estar esparramado no sofá e não a beber copos algures, à filha adolescente que resmunga por ter de arrumar a cozinha porque não anda na vadiagem com más companhias, pelas broncas do chefe porque se tem emprego, pelas persianas avariadas porque se tem casa, pelo lugar do carro que se  conseguiu tão longe porque se tem carro e se pode andar, pelas pilhas de roupa para lavar porque se tem família, pelo despertador que toca de manhã e custa a levantar porque estamos vivos…

Eu não só gosto de moda, como também acredito que a sua missão é mostrar de nós o melhor daquilo que somos e às vezes até mais. E que há muitas coisas boas, maravilhosas no mundo da moda. Que não é só champanhe com cocaína e não é só gente estranha a fazer coisas esquisitas  só para chamar a atenção e que ninguém usará jamais. Eu penso exactamente o contrário: eu penso que a moda só é moda quando mostra o melhor que há em nós e que existe para isso mesmo: para servir as pessoas desta forma tão sublime que é precisamente o mostrarem o bonito que são. E eu – que tenho memória selectiva – só vejo coisas boas na moda.
E agora vou contar aqui uma história de uma mulher do mundo da moda que me comoveu surpreendeu. Das marcas que mais gosto é da Celine (sapatos e malas de uma perfeição únicas, um dia conto a história do logotipo que tem a ver com a calçada de Paris) e chego aqui para  falar da Phoebe Philo que muitos dos meus queridos leitores não conhecerão mas que é um nome incontornável do mundo da moda.
Actualmente é a directora criativa da Casa Celine. Começou a trabalhar na Chloé em 1997 com Stella McCartney e, quando esta deixou a casa para ir dirigir a sua própria marca, convidada pelo Grupo Gucci, em 2001, a  Phoebe Philo passou a ser a directora criativa da Chloé. A estadia de Phoebe Philo na Chloé foi muito, muito aplaudida e a ele se atribui o ter trazido a marca para a ribalta do mercado como uma marca “cool”. Teve um êxito incontestado e unanimemente reconhecido. A ela se deve a criação da "hit bag", a Paddington, que, seguramente, todos conhecem e que é esta  que vejo no braço de muitas mulheres (em Lisboa, na Stivali, um must de vendas).





Em 5 de Janeiro de 2006,Phoebe Philo resignou ao cargo de directora criativa da Chloé para dedicar mais tempo à família.
Mas em 4 de Setembro de 2008 o Presidente da LVMH anunciou Phoebe Philo como directora criativa da Casa Celine. Onde está até hoje e a quem é atribuído, de novo, um êxito total.  Sobre isso, basta ler a literatura e verifica-se que há unanimidade.
Só que agora Phoebe Philo anunciou que a casa Celine não iria ter desfile na próxima Fashion Week porque … ela vai ter um bebé em Abril e quis-se proteger do stress que é a preparação de um desfile. Em substituição, anunciou que iria fazer uma apresentação íntima e informal.
Já mostrei aqui uma das criações mais célebre desta mulher mas vale a pena ver o talento e o resultado do seu trabalho que, agora, lhe permite impor esta decisão para proteger o seu terceiro filho.
Esta foi a decisão que ela tomou e que muito comentada tem sido porque se diz que uma marca sem desfile leva um rombo incalculável. Basta pensar nas fotografias dos desfiles que são a maior publicidade que uma marca pode ter. Mas penso que, se calhar do ponto de vista do imediato, isso até pode ser posto no prato da balança. Mas para o final da história o que vai contar é a decisão desta mulher que percebeu que, com todo o talento que ela tem e que reconhecidamente é muito, muito mesmo, ela pode ser substituída em qualquer altura mas como mãe do bebé que vai nascer ela é insubstituível. E, por isso, optou pelo "cargo" em que ela é insubstituível. Isso é o que vai ficar para a história. O que vai ficar para a história não é que a Celine teve uma apresentação informal na próxima Fashion Week e não um desfile.  O que vai ficar para a história é que Phoebe Philo não a fez porque ía ter o terceiro filho brevemente. Assim como ficou para a história que, depois de um imenso êxito, ela deixou a Casa Chloé para se dedicar à família. E que depois foi convidada para esta casa, a Celine, que é, sem dúvida, uma das melhores do mundo.

E, concluo eu, há muitas coisas grandes que resultam de se fazer o que se deve e de se estar no que se faz. Estou certa que a Celine vai lucrar com esta decisão. E quando digo lucrar não estou a falar de filosofia. Estou mesmo a falar de lucro, de profit no mais estrito sentido do termo. E nem falar da Phoebe porque essa... o mundo precisa dela, especialmente o da moda.
E agora podem ver aqui a coleção Celine que a Phoebe Philo criou para a próxima estação , da qual disse que a fez pensando na forma. "É muito escultural, muito tridimensional". "Chamámos a atenção para as partes que pareceram fortes para acentuar, tentámos criar algumas novas proporções."

Ainda por cima é tão bonita e tem tanta classe, não acham?





Em 2010 foi eleita a melhor a designer do ano no  British Fashion Awards
Phoebe Philo - 2011 CFDA Fashion Awards - Winner's Walk

Não apetece ser mãe outra vez?

Beijos
Maria

1 comentário:

Kika disse...

Maria!!! Estou absolutamente maravilhada com esta história, não fazia ideia que nestes meios pudesse haver gente com esta "pinta" capaz de tomar decisões que abalam completamente o sistema.!
Muitíssimo obrigada por nos dar a conhecer estas pessoas que nos dão ânimo para abalarmos sempre o nosso sistema e, com isso, também ganharmos muitos prémios!!!
Um beijinho enorme!!!