05/03/2013

Meu querido P. José Afonso. A minha vida empurra-o para o Céu.

Estou desfeita. Não consigo aceitar. Não consigo perceber. O coração parece que me dói mais do que aquilo que consigo aguentar. Passei do estado de choque para este estado de sofrimento que tomou conta de mim e que me dói mais que qualquer dor física que me podia ter calhado nesta vida. Ele era um homem na força da vida, 50 anos feitos, saúde de ferro, forma física de excelência, boa figura no seu metro e noventa de altura. E do nada foi-se deste mundo. Não era um homem qualquer. Era um homem que faz muita falta neste mundo.
E eu!!!! Eu!!!! Eu perdi, com a partida dele, uma das pessoas que mais me ajudou na minha vida, o meu Conselheiro,  o meu Confessor, o meu Director, o meu Ouvinte, um dos meus canais da Graça.  E hoje para lá fui, aonde o encontrava, naquele confessionário, completamente à deriva, louca, à espera de o ver ali, ou de ver a chapa com o nome dele, onde costumava estar horas!, à espera que isto não fosse mais do que um pesadelo. Mas estava vazio. Vazio. Um vazio infinito e quis entrar lá dentro, quis espernear, quis gritar, quis partir aquilo tudo. Uma das pessoas que mais me ajudaram numa fase complicada da minha vida. E, se estou aonde estou, por ele o devo. Se os meus me têm com eles, por ele o devo e por ele o devem. O meu querido, do meu coração, Padre José Afonso! E não acredito que isto tenha acontecido. Não acredito que não o encontro mais. Não acredito  que quando ali for, certa de que venho com uma alma nova, força revigorada e completamente descomplicada, ele não vai lá estar.Não vai lá estar. Não vai lá estar. Nunca mais. Nunca mais. Nunca mais. Nunca mais. Só quando me passar desta é que o vou voltar a encontrar. Aqui? Nunca mais.
Também queria ter todos os conselhos que ele me deu gravados a ferro  e fogo na minha alma e não tenho. Só sei que me fez chegar aqui, feliz, aonde eu estou e que é onde devo estar. Eu sei que esta vida é uma passagem, mas ele faz mais falta do que eu e eu dava agora mesmo a minha vida por ele. Sem hesitar um segundo. E não me consigo lembrar de nada do que ele me disse e só tenho à minha frente o seu olhar limpo, de uma vida de pureza, a sua figura esbelta, a sua alegria, o seu sorrido e o seu sentido positivo da vida, os seus desdramatismos,o sentido comum, a forma como desfiava os novelos da vida e me mostrava como tudo era, no fundo, tão simples porque tudo se reduz a uma questão de amor. Não há muitas pessoas assim na terra e eu não me consigo conformar e estou desfeita. Completamente desfeita.  Quantos dramas da minha vida ele transformou em coisas tão simples e sempre me encheu de paz e me transmitiu um imenso afã de chegar mais alto e mais depressa, me encheu de ânimo para ser melhor e chegar mais longe. Hoje apetecia-me chegar aqui ao meu blog e pô-lo todo de negro. Mas não era isso que ele me aconselharia. Eu sei que ele me diria: continua com a vida para a frente, Não deixes de fazer o que deves e de estar no que fazes porque esse é o caminho seguro.
É isso que estou a tentar fazer, com o coração e os olhos a chorar. E as pernas a tremer. Sim a tremer. E estou a tentar e ... não consigo. Eu sei que devia, mas não consigo. Não paro de me perguntar: Como é possível isto? Como? Parece que Deus se esqueceu de estar lá naquele momento. Mas eu sei que estava. Eu sei que estava. Eu sei que estava. Tudo é para bem. Tudo é para bem. Tudo é para bem. Tudo é para bem.
E sim! Estou a pensar mal. eu  sei que o vou encontrar nesta vida,enquanto eu andar por aqui. de passagem. como todos nós.

6 comentários:

Anónimo disse...

Maria: pode continuar a falar com ele, agora sem ter de ir ao Oratório. Acho que sou ainda mais devedor do que a Maria.
Estará junto de Deus e a ajudar-nos ainda mais.

Anónimo disse...

Amiga Isabel
Entende-se o seu sofrimento pelo conteúdo da sua mensagem.
O Padre J.Afonso vai continuar a guiá-la.
Um grande abraço e bjos

Anónimo disse...

Querida Isabel, obrigada por este texto tão profundo! Sinto uma enorme perda também, e conhecia-o muito menos bem. Um beijo grande.

Maria disse...

Obrigada queridos todos pelos vossos comentários. Agora o Pe Guedes está a ver-nos e talvez a querer contar-nos aquelas histórias com tanta piada e que eram tão típicas dele. E eu queria dizer-lhe (a ele) que lhe ficámos a dever aquele lanche de que ele nos falou nas fabulosas aulas sobre o Catecismo. Um beijo a todos e todos temos de apoiar-nos neste momento tão duro. Como ele nos apoiou, nos sustentou, nos ajudou. Temo-nos uns aos outros. E a ele, junto de Deus.

Anónimo disse...

O Pe. Guedes foi o primeiro sacerdote com quem tive contacto a sério. Foi ele quem me "mostrou" Cristo. Foi ele o primeiro a perdoar os meus pecados em nome de Cristo. Foi ele o primeiro a alimentar-me com o Corpo de Cristo, foi ele quem, inicialmente, me preparou para a Confirmação na Fé. O cristão que hoje sou, a ele o devo. Não é difícil imaginar o desgosto que tive e que continuo a carregar e do qual dificilmente me irei libertando. Resta-me o consolo das palavras de alguém que me disse: anima-te, Cristo entendeu que ele já tinha feito o seu trabalho aqui na terra, agora chamou-o para continuar a trabalhar no Céu.

Maria disse...

Querido anónimo: muito obrigada pelo seu testemunho e pelo comentário que aqui deixou! Muito obrigada!