18/12/2012

Crónicas de Paris. Paris je t'aime IV

Queridos Amigos,
Acho que vou mesmo ficar por aqui. Não volto.
Arranjo um emprego como balconista e cá fico. Tinha era de aprender chinês e era garantidinho. Há mais chineses e em certos pontos do metro de Paris falam chinês. Ou japonês que eu não os distingo.
Não vejo crise e aqui fica o sítio onde vi gastar mais dinheiro por metro quadrado
: a Chanel. Lembram-se da Zara em saldos? Igual. Com uma diferença "insignificantemente pequena": o conteúdo e os sacos. Engraçado que aqui têm sacos  de plásticos castanhos sem nada escrito para esconder o que vai dentro (só para os clientes que pedem). A maioria dos clientes (99,99%) são chineses ou aisáticos e depois mulheres todas tapadinhas da cabeça aos pés. Com Birkins nas mãos e as outras Lady Dior e Prada e tudo assim. Não as entendo. Parecem um pouco andrajosas, todas tapadas e vai-se a ver as partes que mostram (as mãos e os pés) só trazem luxo. Se as visse nas ruas pensava que andavam a traficar  carteiras falsas. Mas não são falsas e são delas.  De onde serão estas mulheres? de onde vêm? Depois há as parisienses. Ui. Chique, chique, chique. Irrepreensível. Discreto. Cheio de classe e de charme. Usam as coisas como sabem com um enorme "allure" e uma presença irresistível. Nunca têm dúvidas do que fica bem e do que lhes fica bem a elas. Põem tudo em cima  e tudo com uma enorme harmonia que torna aquele chique intemporal. Até as calças por dentro das botas que eu já não consigo ver à minha frente. Mas com aqueles casacos curtos de zibelinas, capas de vison daquele tom dourado maravilhoso, casacos grossos de corte impecável. Blasé mas ultra-mega chique sem ostentação. As chinesas não. As chinesas usam o que se usa e gostam muito de griffes. Acho que tinha de lhes inventar uma griffe para as carimbar. Digo isto sem menosprezo porque também me gostava de carimbar a mim, com um tattoo, mas não era de griffe. Da ponta da cabeça até aos pés não há nada sem griffe nas chinesas. Ou será japonesas? Griffe estampada. Usam os casacos de penas (esta estação são um "must", sim, e muito confortáveis), mas os delas dizem sempre "Moncler" (o meu diz "Zara" e é no avesso).Onde irão buscar tantos euros? Umas têm ótimo aspecto, talvez demasiado cuidado para o meu gosto, outras nem tanto, mas todos têm griffe. Para pagar "mon petit cadeau" fiquei quase meia hora na loja Chanel da Rue Cambon e andei a ver tudo: ai os vestidos das penas dos desfiles (já conhecia o Museu d'Orsay e, por isso, estas roupas para mim valeram mais... Já sei o que estão a pensar de mim... Já sei...). Ai meu Deus! Os vestidos bordados de flores e outros com flores de pedras. Os casacos Chanel em tons de dourado ainda a lembrar o desfile Paris-Bombay e todos os do último desfile de Versailles. Obras de arte. Que entram e ficam bem em qualquer cabide/corpo. Meu Deus!
Bem. Quanto a malas, como eram tantas a sair, perguntei preços.... "Madame qu'elle est votre budget?" (=minha senhora, qual é o seu orçamento?). Eu: je n'ai pas budget (= eu não tenho orçamento). A menina querida: Ça peut'être 3.000 /3.800 euros. Eu: "il n'y a rien moins chere Madame?(=não há nada menos caro?). Ela- c'est dificile pour un classique ... Mais je peut voire. Peut etre 2.000 €, rien moins chére. (= é difícil para um clássico, mas eu posso ver. Pode ser 2.000€, mas nada mais barato). Eu: merci madame, ça serà pour une autre fois. (obrigada, fica para a próxima). Isto está cheio de erros que eu não falo nem escrevo francês vai para mais de X+X anos...
Quando os chineses não compravam estas malas, elas eram "compráveis" por nós. Agora foram a pique que eles dão tudo por uma griffe e nós - europa - ainda lhe devolvemos o querido IVA.
Impressionante foi tratarem-me como se fosse a melhor cliente de todos os tempos, ofereceram-me o que quis tomar,  pediram desculpa mil vezes pela demora. Para mim foi o melhor porque fui para os lados da boutique e aí não vi chineses. Os chineses gostam é de malas e sapatos e colares e essas coisas com a griffe estampada. Na secção das roupas, huuuummmmm, além de mim, era só gente (poucas pessoas e num ambiente muitíssimo mais discreto) que medi  dos pés à cabeça e comecei a converter o que traziam em cima em euros e a conta foi para cima do carro do post de ontem (acho que é um protótipo e não está à venda). Eu sou perita em reparar em tudo sem ninguém dar conta. É mesmo mesmo mesmo impressionante. Consigo unir isto em mim com um sentido de desorientação que não tem semelhança e com uma distração que passa dos limites do razoável e chega a roçar a loucura.  Não tenho explicação para isto.
Isto sou mesmo eu que sou saloia e não me apetece hoje falar de museus (a propósito: o d'Orsay já o conhecia como a palma das minhas mãos e é sempre um dejá vue, mas a exposição da Moda no Impressionismo que está até Janeiro vale muito a pena). Uma coisa impressionante é que as pessoas que aqui vi, que entregam a chave do carro ao porteiro, que se sentam a tomar um "drink" enquanto lhes vão buscar as roupas mais bonitas - e mais caras - do mundo não me pareceram especialmente felizes. Pessoas bonitas e chiques, sim. Do melhor que já vi nesse aspecto. Pessoas que gastam 20 ou 30 mil euros numa peça de roupa e que, para eles, talvez até nem seja demais. Cada um faz com o seu dinheiro aquilo que quer. Mas acontece que não as vi  especialmente felizes e apeteceu-me contar-lhes no meu francês enferrujado que há pessoas tão felizes e que  elas também podiam ser! Conversava um bocadinho e percebiam logo. Mas estava ali num ambiente tão discreto que se lhes dirigisse a palavra ainda vinha o  porteiro mandar-me calar. depois pronto, foi a risota de sempre, incluindo com as meninas a atender muito impecáveis. todas de laço preto no cabelo. Todas e todos lindos.
Às vezes acho que estou na china e só de vez em quando vejo franceses.
Aprendo a falar chinês e fico cá a vender-lhe coisas.
Agora vamos mas é ver montras que de converseta já vai longa.



















































Uma loja que estava doidinha por conhecer. Depois conto a história dela, Mas encontram-a aqui.



 Eu não disse logo que ía vender coisas? aqui está o meu futuro.

Não é uma montra. Mas parece.

 Idem: Place Vêndome.
LUZ!


Bisou da Maria, versão "daqui não saio, daqui ninguém me tira." Et voilá!

4 comentários:

Fernando Vouga disse...

Olá Maria

Belíssima descrição da cidade-luz. Texto interessante e bem apresentado.
E as imagens estão fantásticas. Intuição, técnica ou as duas coisas?
Estive lá várias vezes mas vi uma cidade diferente. Enfim, os olhares masculinos fixam-se noutras perspectivas...

Maria disse...

Obrigada pelo comentário Fernando! Pois... não é técnica, é só mesmo intuição. Ou digo melhor: é o meu olhar sobre as realidades, aquilo em que eu me fixo e que a câmara capta. Não sei nada de fotografia, mas agora comprei uma Canon pequenina mas muito boa. O que é mesmo engraçado é que a nossa visão das coisas é tão diferente, não é? Isso é tão enriquecedor! Um beijinho!

alexandrachumbo disse...

Querida Maria, já há algum tempo que não conseguia passar por aqui... e eis que agradável surpresa este post, para mim um dos melhores de sempre. Senti-me em Paris, eu mesma, andando por esses espaços. Um dia ainda vou lá com o meu mais que tudo, quando formos GRANDES! beijo de Boas Festas*

Maria disse...

Querida Alexandra. Pois este blog, sem ti, não é a mesma coisa. E já se sentia "órfão" de ti.... Estava a mingar....