04/08/2013

Era uma vez uma ida à praia


Não sou uma mulher praieira nem morro se não for à praia porque a minha visão é mais de campo...
Mas uma pessoa vai à praia e vem de  lá de boca aberta. A cabeça não pára um bocadinho.
Começa logo que uma pessoa vai para ver o mar e se espraiar na areia e passar uns momentos de sossego e até leva o Expresso a ver se é este o fim de semana em que o consigo ler.
Mas depois, vem de lá sem ter pegado no jornal e de boca aberta.
O espectáculo é demasiado bom para se perder.
Primeiro porque uma pessoa vai para a praia para ver o mar e o céu azul e a beleza do universo.
Mas só vê é corpos. Muitos por metro quadrado. Estica um pé e toca num desconhecido. Não é costume a gente andar assim a tocar em desconhecidos como se fosse normal e nem se sabe se têm doenças de pele ou alergias.

Quando cheguei ainda havia bastante areal e não tocava em ninguém, mas fui dar um passeio e quando cheguei a praia já era um campo de refugiados. Á minha frente e dos lados, era só tendas plastificadas em formato "iglo". Lá de dentro só se ouve gente a gritar. Não é que estivessem a discutir. São mesmo pessoas que não falam, só gritam. Não páram de gritar um segundinho.  Uns com os outros. E com o telefone. Muito. Tás-me a óvir ó Fernanda? Fernanda?Tou? Tou? Fernanda? Fernanda? Tou? Tou? TOU? Ai, tá bem, tás aí, deixei de t´óvir... (pudera penso eu... a gritar assim, como a querias "óvir"????)) Ao fim de 5 minutos, uma pessoa fica com os ouvido a zunir e com a vida destas pessoas passada a pente fino .
Depois são pessoas que não param um segundo.  Vêm para a praia com uma energia de pilha duracel. Não param mesmo. E também não páram de gritar um segundinho.  Ó Zulmira não queres  um iórguti fresquinho? Zulmira? Zulmira? Volta cá Zulmira? ZULMIRA? Não óvistes a mãe a chamari? Porque virastes as costas Zulmira? já te disse que  era para comeres o iógurti? Òvistes??? Zulmira! Ó comes o iógurti ó levas uma lambada  bem dada! Bóra lá, não te chamei? prá próxima não vens prá praia qué pra saberes vires quando a mãe te chama. Entretanto, no meio da guincharia dou conta que já deram 3 voltas à praia e só de olhar para eles fico cansada. Cansada.. eu que já levava com uma aula de cycle em cima! Quanta energia estas pessoas ... em explosão.... em plena praia... não param quietos.... um segundo que fosse... Que vêm fazer para a praia? Não seria melhor irem gastar tanta energia a correr no paredão?????
Corpos! O problema é que são muitos por metro quadrado. Ou talvez seja pouca praia para tanta gente. Uns escuros tisnados do sol, outros cor de lagosta suada. Outros branco-leitoso com manchas vermelhas de onde faltou o creme. Até me dói!
Homens! Tatuados, platinados e musculados. De repente percebo que tenho o espaço à minha volta ocupado por homens platinados. Muitos. Um com uma crista da mesma cor que eu pus no meu cabelo quando me meti a fazer madeixas em casa. Muitos outros com os cabelos todos pintados. Musculados.  tatuados. Os tattoos, esses... huuum deixam-me de boca aberta e não páro de olhar. Salvam-me os óculos de sol. Um homem com o lado esquerdo do corpo com uma tatuagem que é um autêntico intestino grosso. Será que se quer mostrar por fora como é por dentro? Uma questão de autenticidade, será? Faz uma impressão aquilo tudo enrolado. Todos põem uns cremes que lhes deixam o corpo reluzente e a musculatura mais evidenciada.
Começa outra gritaria. Eu não te disse para pores o chapéu interrado na areia? Carago! Num se pode contar contigo p,ra nada homem!. Não importa que o chapéu seja o mesmo que acabou de quase matar o vizinho por um acaso de uns milímetros de destino. O homem leva no toutiço à mesma que ela não percebeu que estava co'a Fernanda aos berros ao telefone e não a  conseguia óvir.
para mim esta praia é um fascínio.
Uma oportunidade de  uma pessoa pasmar e ficar de boca aberta.
Gritar uns com os outros já era suficiente, mas gritam ao telefone. Ò Márcia, agora num chores. Não vale a pena chorar, c'a vida é assim mesmo, não é como a gente queri. Temos de esperar duas semanas, pra ver se ele pede a transferência para uma escola daqui. Qu'eu também não o quero na minha casa p'ra ele andar na Portela e se tornar um gandulo com´ós primos. Ai num quero não. Ela tamém num diz nada. Num sei quanto ela ganha e se pode ficar com ele em casa ó não. A Taziana já está cu'pai. Mas não se consegue perceber se o rapaz fica no norte ou se vem para sul porque continua  de cima de nós....  Já comestes o iórgurte ó Zulmira? Que estás a fazer? Queres levar uma chapada, é? queres levar? Queres? QUERES?  já te disse pra comeres o iórgurti! olha ó pão Zulmira!
Isto é mesmo um espectáculo. A praia não é praia: é mesmo um espectáculo sobre a natureza humana.
Um homem bronzeado, reluzente, com uma bola dourada na mão, aparece do nada. Ao lado, um sozinho que eu já  estou a observar há algum tempo parece saído de um filme do Woddy Allen. Magrinho, cabelo encaracoladinho, pelo ombro, sozinho. Já mudou duas vezes de sítio mas vêem estas pessoas em bandos e invadem-lhe o espaço e lá vai ele de toalha às costas para outro metro quadrado livre. A pôr constantemente o mesmo bronzeador que todos os outros usam: em óleo.
Nunca vi tanta gente com tanto óleo no corpo.
As mulheres  que saem da água e julgam que são a Bo Derek só que se esqueceram das tranças. Porque será que as mulheres pensam que têm um corpo lindão quando saem da água do mar? Será o efeito do sal no corpo ou do sol na cabeça?
 Mas o espectáculo mais horripilante é quando se viram e têm o rabo de fora das calças. Devia ser as calças de fora do rabo, mas é o rabo de fora das calças. A moda do fio dental ou da asa delta na praia. O que deu a esta gente? Vi duas assim, nesta figura. Horripilante. Não percebo estas pessoas. Dão o espectáculo mais horripilante que eu já vi. Quando se baixam, então, não tem explicação. Pior que um filme de terror. É que parecem os rabos dos porcos na porqueira. Os porcos também andam sem cuecas.  Só não entende o que eu quero dizer quem nunca viu uma porqueira. Eu já vi e cheirava mal, a porcaria mesmo. De repente a praia parece-me uma porqueira e começo a ficar incomodada. Valham-nos as diferenças. Os rabos das porcas são mais rosados e mais lisos. Os destas são cheios dos piquinhos da gordura da celulite e o espectáculo é mesmo mau. Demasiado mau.
de tal maneira que me prendi no pano que trouxe para a praia e não o tirei mais. Dentro do meu fato de banho, embrulhada, fui assombrada por um ataque de pânico. Não quero que me confundam com uma porca. Ou uma vaca. Só de pensar nisso fico doente e com vergonha desta gente.  Se pudesse, cobria-as com uma burca. Sim! Da cabeça aos pés. Uma burca, sim.  Nada é tão mau como este espectáculo.









Home, sweet home....
... de volta à civilização...



2 comentários:

Fernando Vouga disse...

Olá Maria

Belo texto, cheio de humor e qualidade. Parabéns!

Quanto ao fio dental, acho que é uma boa medida de higiene... para evitar cáries lá no sítio.

Maria disse...

:) :) :)