21/09/2015

Raf Simmons, o Senhor Dior e nós.

Em Abril de 2012, depois da saída acidentada do John Galliano, caiu como uma espécie de desilusão o nome de Raf Simmons para dirigir os destinos da casa Dior.
Não era que não gostássemos dele. Longe disso: andava na nossa mira há muito tempo, na coleção de homem com o seu nome e no trabalho extraordinário na Jil Sander (não nos esquecemos daquele casaco cor de rosa pálido, dupla face como forro cinzento claro). A questão era outra. Parecia-nos que ele "morava" algures nos antípodas do legado do Senhor Christian e do seu extraordinário e sempre novo "new look".
Agora, estupepefactos perante o facto de ele não desenhar e assumir com uma profunda (imensa, enorme) humildade toda a "heritage" da Dior e, sobretudo, do "saber-fazer" das pessoas (artesãos!) da "Maison" ficamos encantados com o documentário em que se nos revela a sua intimidade angustiada perante umas escassas 8 semanas para preparar a colecção inteira. O que faz num trabalho de equipa genuíno que serviria de “case study” para muitos empresários.
Do filme resulta o seu intimismo, a sua perplexidade e necessidade perante a arte, a comoção de ver estampados nos tecidos as telas com o spray do Sterling Ruby (e de não ter deixado largar a Bucol sem que o fizesse apesar de todos os obstáculos que lhe colocaram ...) e depois os ver nos dois vestidos e no casaco idealizados por ele que o fizeram chorar de comoção escondido no desfile.
É um portento de simplicidade (que diz “nunca farei coisas teatrais e, quando as fizer, dêm-me um chuto”), humildade, bom gosto (gosto inspirado na arte sem a qual diz que não consegue viver) e, sobretudo, um homem com uma imensa vida interior. O que se percebe na sua angústia e fuga em relação à face exibicionista e “show off” da moda,das câmaras e da primazia ao seu mundo interior, da visita sozinho aos museus que não dispensou nos dias de loucura que precederam a apresentação da coleção.
Percebemos que o sucesso está no facto de conceber a moda como um diálogo - um verdadeiro diálogo em que "ouve" mesmo e "fala com"  - entre quem usa a roupa e quem a concebe e de não conseguir viver sem arte.
Agora mesmo, na coleção de inverno de 2016, 4 anos depois, foi buscar inspiração à pintura flamenga.
Raf Simmons é uma das pessoas que nos fazem gostar tanto de moda e de que ela se torne uma primazia na nossa vida. E precisamos de muitas pessoas como ele.
Por isso e muito mais, o documentário “Dior e eu” torna-se imperdível, uma viagem sem filtros a um mundo extraordinário de beleza que, de repente, se torna intimista e tão profundamente simples. E que nos faz pensar que, às vezes, as escolhas óbvias não são as mais acertadas e que nos enganamos nas aparências. MUITO BOM!

2 comentários:

Margarida disse...

Querida tia, conseguiu pôr por palavras tudo o que senti ao ver o filme! Adorei conhecer melhor a personalidade do Raf e identifiquei-me a 100% com o seu estado interior perante a complexidade do processo criativo, perante o legado de Dior, sobretudo perante a Arte! Fiquei comovida e enternecida com a sua humildade, com a sua timidez e verdadeira noção de que era apenas um instrumento, um meio para que se produzisse algo maior. No meio desta azáfama das redes sociais, em que toda a gente "se partilha" e "se promove", há muito que necessitava de um exemplo destes! Muito Obrigado pelo post!!

Grande beijinho

Maria disse...

Exatamente! Isso mesmo. Um meio para algo maior. Um grande exemplo quando as pessoas se partilham, se mostram e se promovem. Sem deixar rasto nenhum. Grande beijinho querida!