11/04/2012

Hoje no ginásio: para que serve um embrulho bonito sem nada lá dentro?

Meus Queridos,
Mais uma história da minha vida. Regressei em força ao ginásio (de onde nunca saí verdadeiramente e até acho que todos me conhecem e eu conheço todos, gente bem educada e bem disposta porque ali vai por pura vontade e normalmente nunca por obrigação). O ginásio agora está outra vez no que era antigamente - voltou para as mãos de quem nunca devia ter saído, não sei se dos americanos, se dos ingleses (recebi a carta ou e-mail, mas aonde vai ele...).
Mas hoje fiquei até mais tarde e é engraçado porque o público dos ginásios muda imenso conforme as horas e isto dava para escrever um tratado. É mesmo interessante perceber que quem frequenta à hora de almoço são normalmente pessoas comprometidas com compromissos familiares que têm de estar à hora do final do dia em casa. À noite o público é completamente diferente.E isto é hilariante.
E nesta altura do ano, o ginásio anda a abarrotar (este ano um pouco menos, com a crise).
Quando passo no ginásio (normalmente já no balneário) depois das 14H30, chega o público da hidroginástica (eu nunca entrei na piscina) que são senhoras mais velhas que são um amor. Há dias faltava-me um botão numa camisa e uma senhora trouxe-me uma caixa cheia de botões. Andou com eles dias a fio até me encontrar de novo (eu frequento vários ginásios,com livre trânsito para todos do mesmo grupo, conforme os treinos que mais gosto e as horas que tenho livres).
Mas hoje, eram quase 3 horas da tarde e eu no ginásio. Pois chegam duas "peruas",
raparigas novas que começam a falar do botox que tinham posto na cara. Ao lado delas eu parecia uma obesa, tal era a magreza  delas (uma magreza de modelo, sem um único osso à vista). Muito mais novas do que eu, comecei a reparar. Mala: Louis Vuitton. Corpo: perfeito, de plásticas. Preocupação: vou treinar bem assim vestida? O que acha? Eu meti conversa (meto muitas vezes conversa), disse-lhe que estava bem e que era só um treino, que ninguém ia notar na roupa.... E é certinho que num treino ninguém olha para ninguém a não ser para si próprio.
Eu conheço pessoas assim, mas são muito poucas. Pessoas que só pensam em estar perfeitas, em usar tudo o que é último grito e faz roer de inveja as amigas iguais a elas. Estas, por acaso, deviam ser de profissão muito duvidosa, porque estavam a dizer que tinham dinheiro, que eram iguais às outras que iam ao botox (esta conversinha,... hummm. ali à minha frente, sem pudor, hummm, cheirou-se a esturro).
No fim disto fiquei com pena destas raparigas, tão novas e com botox na cara (notava-se à légua porque tinham aquela "beiça" do botox que é inconfundível). A minha pena primeiro foi porque há-de haver um dia em que vão envelhecer mesmo e não há botox que lhes valha (a não ser que, depois, cada vez que fechem um olho levantem uma perna) e vão cair em frustração. Mas depois tive pena pela enorme indigência em que vivem. Tudo no sítio, corpo perfeito, mais que perfeito (não seriam modelos apenas por causa da altura), mas e o resto? O resto? O que vai dentro daquelas cabeças para além das Louis Vuitton, do botox e do corpo perfeito?  Eternas insatisfeitas a querer sempre mais e mais a inatingível perfeição. E para quê? Para quê?
Fez-me lembrar um embrulho bonito mas sem nada lá dentro. Para que serve? Para deitar fora.
No caso   o embrulho nem era muito bonito porque faltava aquele "quid"  de classe e o que havia era falta dela (tipo rasca, sabem? E não tem nada a ver com a Louis Vuitton que era absolutamente autêntica, embora um físico perfeito, sem dúvida).
Triste indigência quando se tem tudo por fora e porcaria por dentro. A culpa não é delas. Se calhar é da vida que nunca lhes ensinou mais.
Aqui está o exemplo vivo - encarnado, ao vivo e a cores - da pura futilidade, no  pior dos seus sentidos: o culto de um corpo que é absolutamente gratuito porque não leva nada de interessante dentro.
E pronto. Não me quero ficar aqui pela negativa. O valho adágio "mens sana in corporis sano". Corpo são em mente sã. Mente muito recheadinha. De coisas boas. Futilidades também, mas não só.

Pois é: hoje era para trazer para aqui uns looks maravilhosos de misturas improváveis, ultra inspiradores para esta estação e para aproveitar as coisas que temos e dar-lhes um ar de novo.
Mas amanhã faz anos a minha Mary e tive de lhe preparar um banquete de arromba.
Amanhã  festa grande que esta miúda está crescida.
Os pais não queríamos. Mas é assim a vida.
Um beijo da Maria

1 comentário:

Anónimo disse...

Deitar embrulhos bonitos fora? Em tempos de crise? Nem pensar. Desmonte-as, ofereça-as e haverá, por certo, quem as monte... de boa vontade.