16/06/2012

A história da moda


Queridos Amigos,

Ora vamos lá ver como começou a moda, que eu andava doidinha para contar, embora tenha umas imagens de Viseu que são de uma beleza maravilhosa, de estilismos, de coisas bonitas que estão à espera de vir para aqui. Ficam na lista ...
Foi assim: a moda começou há milhões de milhões de anos - quem diria, hem? Para quem acha que é uma futilidade, pela idade, já a vai ascender a algo mais significativo. 
Ora vamos lá ver como foi:
Um homem que se chamava Adão olhou para uma mulher que era a Eva e viu que ela estava nua e ela também reparou que ele estava nu (ela primeiro assustou-se e depois habituou-se, mas  ele gostou logo do que viumas isto já sou eu a inventar). Andavam enganchados um no outro, apaixonados e aquilo foi muito estranho.
O reparar na nudez não foi um mero "acaso" mas resultou das ações livres do Adão e da Eva. E SIM: a resposta é SIM: pode ser que descendiam dos macacos, ou dos gorilas talvez. Eu sei quem são os meus avós e chego aos meus bisavós e aos pais deles, mas a estes Adão e Eva não chego, mas conheço a teoria do Darwin. O Adão e a Eva eram um homem e uma mulher, isso sim, porque eram racionais e livres, estavam in love um pelo outro e o que queriam um do outro não era só sexo, era muito mais do que isso: queriam a companhia um do outro, falavam (talvez ainda poucas palavras mas entendiam-se), pintavam, tinham manifestações artísticas e sentiam amor um pelo outro, não era só atração,  o que quer dizer que  não eram um par de macacos irracionais a grunhir e a coçar piolhos e pulgas, a satisfazer necessidades fisiológicas em qualquer sítio e ao ar livre, embora possa ser que tivessem um ar amacacado, mas eu prefiro pensar que eles já eram, pela evolução, um bocadinho mais bonitos, que a Eva era ruiva de cabelos muito compridos e que o Adão era uma Adónis de um metro e noventa que não via nada à frente a não ser a Eva e fazia tudinho o que ela lhe dizia para fazer: pode ser que a  inteligência dele estivesse um nadinha menos evoluída e que o seu andar de baixo mandasse mais que o de cima, o que depois veio a evoluir, mas hoje ainda acontece com alguns com muita frequência até.)
Acontece que a  imagem deste Adão e desta Eva que os artistas tiveram ao longo dos séculos sempre foi assim (nunca os vi pintados por pintores a sério com ar de macacos, só nos livros das escolas e não são por pintores).
O Rubens via-os assim nas suas formas robustas:
Mas o  Miguel Ângelo imaginou-os todos musculados (o Adão mais que a Eva, toda anafada, com tecido adiposo a esconder o músculo que, na altura, era super fashion, sinal de andar bem aviada), vejam lá:



O Fernando Botero (pintor colombiano, nascido em 1932, vivo, que me fascina!)  imaginou-os assim: companheiros e apaixonados, cheios de uma cumplicidade amorosa, em que o Adão quer resolver o "caldo depois de entornado", mas a serpente já lá está. Numa posição quase estática no tempo e no espaço que  nos transporta para um princípio - o princípio dos tempos da Humanidade - que marcou o destino de todos os homens. E lá estão os dois, num princípio que ficou assim, para sempre e, tendo acontecido, não muda e marca a raça humana.


E o Fernand - Henri Léger, pintor francês, cubista, em 1935 pintou-os assim, na fase de já vestidos (MAGNÍFICOS!!!! Que pintor este!):
Adam and Eve, c.1935 Impressão artística
Tamara de Lempicka (pintora art deco polaca 1898-1980), imaginou-os e pintou-os assim, de uma beleza extraordinária que não me canso de olhar e olhar e olhar.  Como os dois se deixaram seduzir por si próprios,  fechados e esgotados um no outro, incapazes do "dar-se conta" do Outro, numa imagem que, no entanto, nos catapulta para a transcendência porque nos fixa na beleza destes corpos - e do seu amor - e que, por isso, nos leva também imediatamente ao seu Criador.

[Tamara-de-Lempicka-Adam-and-Eve-9999.jpg]

Mas desde esse dia o Adão e a Eva sentiram necessidade de tapar o corpo nu porque já se olhavam de outra maneira. Como se vê na vergonha estampada da cara desta Eva e na cara comprometida deste Adão:

 
O Adão não se aguentava perante a Eva nua e ela ...tinha vergonha ou pudor ou o que se queira chamar de mostrar assim o canastro ao Adão. Ele, como era um canastrão, também sentiu necessidade de se tapar e não aparecer assim com tudo ao léu que punha a Eva toda corada e aflita só de olhar para ele. Como o Rubens tão bem retrata aqui. Ora vejam bem a Eva toda ruborizada:
Aquilo era de tal maneira que, quando deram conta, se esconderam um do outro por estarem nus. Ora o Adão o que queria era a Eva e esta também só se sentia bem era com ele - eles tinham sido criados um para o outro! -, estavam mais à vontade tapaditos, não sabemos se as partes íntimas se o corpo todo. O Rubens aqui mostra que eram só as parritas, mas não sabemos. Eu acho que eles foram mesmo fazer roupas com o que tinham. Mas é tudo imaginação. O que interessa é que eles tinham mesmo necessidade de preservar a sua intimidade e não se sentiam bem assim nus, tudo ao léu e já não se viam como antes. E foi assim para sempre, até hoje e, de uma forma ou de outra, nunca mais houve homem nem mulher que andassem com o cabedal ao léu,  a não ser alguns que não vêm aqui ao caso que acho que até já fecharam o Júlio de Matos e não sei para aonde os havia de mandar para se curarem (eu a escrever foge-me um bocadinho o pé para o chinelo, mas a verdade é que isso é que me diverte.... Mas continuo ansiosamente à espera que comecem a dizer mal - mal a sério - deste blogue  e agora... estou a pedi-las). E mesmo nas tribos mais recônditas, vemos sempre a necessidade das pessoas de preservar a intimidade, com uma simples tanga ou seja de que forma for.

O resto é tudo conversa. O que  foi, foi isto. De modo que a história da moda é tão antiga ... como o homem e a mulher!
E a questão é mais séria que futilidades: a roupa é a primeira linguagem com que falamos a todas as outras pessoas de nós próprios. Todas, sem exceção: as que conhecemos, as que não conhecemos, as que passam por nós, as que nos fixam o olhar e em que nem sequer reparamos. O que elas vêm em nós e o que nós lhe mostramos de nós é, em primeiro lugar, através da linguagem que é  a nossa roupa.  Só depois vem o resto. Não se trata da roupa. Nem pensar! Ao contrário: trata-se de nós próprios por ser a linguagem que fala de nós, da nossa pessoa, daquilo que somos.
 E por isso é que a roupa e a moda são tão importantes e as suas escolhas essenciais. 
Quantas vezes vou no carro, a pé, na rua, na fila do supermercado, numa reunião, olho, fixo-me numa pessoa - homem e mulher - vejo como está vestido e imagino o que ela é, como é, o que faz, do que gosta. 
E a história do Adão e da Eva repete-se em cada homem e em cada mulher. Como pode um homem ficar indiferente perante uma mulher que só lhe consegue mostrar as partes íntimas? Já assisti a cenas hilariantes em que um homem nem conseguia ouvir uma mulher simplesmente porque ela tinha tudo ao léu! Estava completamente concentrado no léu, sem atenção nenhuma para o que ela dizia. Tal igual - distâncias fisiológicas à parte - como quem olha para o Lamborghini último modelo. Mas uma mulher não é um lamborghini nem um "avião" : é uma pessoa e é uma injustiça que faz a si própria quando se mostra como um objeto de desejo que nem se consegue fazer ouvir! Já assisti a isto muitas vezes e em alguma dá-me vontade de rir pelo ridículo da situação. A tal ponto que já estive numa empresa (americana) em que foi emitida uma circular com indicações sobre a vestimenta em que o ponto de concretização era tal que ía à cor das gravatas dos homens, até ao comprimento das saias das mulheres.  Era estilo fardamento e muito, muito enfadonho, mas pronto, pelo menos evitava isto que estou a contar.
Alguém vai para uma entrevista de emprego com uma mini saia que mostra tanto que se chega a ver o esófago? Porquê? Porque a pessoa se quer apresentar como uma profissional e não como um bom par de .... para curtir! Só isso.
Depois há a cena de pessoa que se vestem de uma forma sinistra, enfadonha, horrorosa, sem o mínimo de cuidado e isso também revela muito delas próprias. Às vezes simplesmente não sabem. Mas à partida, estão sempre em desvantagem quando querem transmitir alguma mensagem. De certa forma, como as descapotadas. Por isso é que agora se anda a dizer em todos os sítios (a última que li foi na revista do Expresso da semana passada) que estudos sérios apontam para o facto de as pessoa bonitas / com bom aspecto ganharem mais 20% de ordenado do que as outras nas mesmas condições. Pudera! ATRAEM! Convencem! Vendem! Têm um sinal mais que cativa!
E por isso é que os nossos cânones visuais são tão importantes.
As pessoas não pensam. Mas se pensassem, antes de se vestir, perguntariam a si próprias como querem que os outros as vejam e que conclusões querem que eles tirem acerca delas. E  como as decisões e eleições seriam diferentes!   Pensar! Faz falta pensar.

E não importa eu dizer mais nada porque, o que vem aí é infinitamente mais importante e impactante: pela boca da Miuccia Prada ela diz isto mesmo que eu aqui disse e não há volta a dar. De uma forma tremendamente maravilhosa porque artística e intelectualmente brilhante. Que fica para amanhã, porque agora vamos dormir. Amanhã tenho de me levantar cedo e os meus queridos leitores do coração (a companhia que me fazem!)  já foram uns heróis se chegaram aqui.
Amanhã a um CLIQUE DE SI!!!! A Miuccia Prada a falar disto em "conversas impossíveis", mas com a voz dela, numa pronúncia italiana deliciosa do inglês, virá  para aqui honrar (ao infinito) este blogue, tal como está numa exposição no Metropolitam Museum of Art (Nova Iorque) desde o passado dia 10 de Maio até ao próximo dia 10 de Agosto (só não vou vê-la se não puder).
Um beijinho da vossa Maria. Durmam bem!

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