Foi sem dúvida nenhuma das coisas mais
impactantes que vi nos últimos tempos. Entrar numa sala e ver um lagarto a
subir as paredes emparelhado com outro, perfeitamente felizes e inesperadamente
bem integrados no palácio. Um sofá de meados do século passado em tons
frou-frou com um cheiro a naftalina e muito, muito kitsch que se chama
"Brise".
As duas cabeças de touro, uns verdadeiros
troféus de renda a envolver a fainça da fábrica Bordalo Pinheiro, numa
sala de bilhar e a ladear uma lareira. Uma televisão a transmitir a
"euro-visão" e completamente engolida pelos "naperons" de
renda que se viam a enfeitar a televisão enquanto se ouvia o festival da
canção....
O quarto absolutamente arrepiante com o
coração de Viana e a voz da Amália Rodrigues que nos faz saltar o ego Português
e não querer ser de mais ninguém a não ser de Portugal. Um coração vermelho
como o coração de Portugal, muito bonito e muito humano. Feito de talheres de
plástico, mas mais bonito que um coração de ouro puro.
Sim, os sapatos em tamanho gigantesco mas
de proporções absolutamente rigorosas, de uma elegância única, exímia mas...
formatados por tachos, tampas e panelas. Um verdadeiro deslumbramento.
O carro feito de bonecos em parceria com o
Continente e que me parece que foi mesmo o primeiro carro dela. Uns bonecos de
peluche dentro de um carro envolvido por pistolas... que nos fazem pensar em
que mundo andamos nós.
O candeeiro que se vê ao som da Carmen de
Bizet com os brincos mais espanholados que eu já vi, todos em plástico. E no
qual vejo aquelas mulheres, com aqueles brincos, todas elas "Carmen"
de nome ou de vida e de estilo.
Bem... e os "a todo o
vapor" vermelho e verde que, supostamente, deitariam mesmo vapor, mas que
não está vísivel por causa dos efeitos que teria no Palácio. Mas cujas bocas
abrem e fecham, tal e qual as flores e tal e qual os ferros de que são feitos
nas mãos das mulheres a passar a ferro "a todo o vapor".
Esta exposição é uma coisa que merece ser
vista, tem de ser vista, com os olhos de cada um.
Um imenso quotidiano rotineiro, às vezes
de um quotidiano já "demodé" que selou uma época, mas sempre elevado
à categoria de arte, de um imenso e surpreendente bom gosto, um quodiano
transformado, construído e apresentado no seu maior explendor, onde não falta o
bom humor e a ironia.
Para mim, esta exposição é um hino de louvor às mulheres. Em cada peça
eu vejo uma mulher. Uma mulher que lava tachos e panelas num
dia e no outro se enfia em sapatos de tacão vertiginoso, nem que tenha que
pagar preço de calos... Um mulher com um imenso coração português, onde cabe sempre
mais um, a dar a vida aos pedacinhos do dia a dia pelos seus e por todos. Um
coração feito de talheres, de pôr a mesa, de dar refeições, de passar a ferro,
de enfeitar os móveis com naperons de renda feita pelas suas mãos mas que, no
fim, é o coração mais bonito que se pode ver. O mais autêntico e verdadeiro ao
som dos fados intemporais da Amália.
Revi-me e emocionei-me. Ao arrepio e às
lágrimas. Eu lavo louiça, eu preparo refeições, no meu coração cabe sempre mais
um e vê-lo assim, como o coração mais bonito feito de coisas de nada como
talheres de plástico, emocionou-me. Sim! Emocionou-me imensamente. Porque tudo
é uma questão de perspectiva. E eu acredito que as coisas grandes são feitas de
coisas pequenas. Aprendi de um Santo a grandeza das coisas pequenas, Mas ver
isto assim, na forma de arte, foi muito emotivo.
Mas não foi só isto.... No meu caso,
no meu caso, no meu caso....
....Vi os cabelos. Sim. Os cabelos. Não só
os da "Perruque", mas também os dos postes metálicos feitos por
tranças de cabelos sintécticos, cada um de sua cor. De repente, eu mesma,
infeliz com um cabelo de miséria e pelas asneiras que tinha acabado de fazer
, senti-me PRODUNDAMENTE
COMPREENDIDA.
É inexplicável Só por isso valeu a pena lá
ter ido.
Por isso e pelo ORGULHO DE SER PROTUGUESA.
GRANDE MULHER
ESTA JOANA!!!!!!
!!!!!!!!!!!
A Exposição da Joana Vasconcelos no
Palácio Nacional da Ajuda!
Não deixem para o fim.... No final do mês
de Agosto já não estará e é um crime não ir ver porque não nos esquecemos tão
cedo....
Uma mesa de marisco!
Fiquei admirada porque, na altura, já se usava um copo de cada nação! É uma das coisas que eu acho piada fazer actualmente: é por a mesa com um copo de água e de vinho de nações diferentes. Pelos vistos, é uma moda que vem de longe!
OBRIGADA JOANA!!!!
QUE TALENTOSA!!!!!
Ú-NI-CA!!!!
POR-TU-GUE-SA!!!!!
DE PORTUGAL!!!!
2 comentários:
Completamente de acordo consigo Maria,
Eu fui ver a exposição na 3ªfeira e adorei e tivemos a sorte de apanhar um guia que explicou tudo, por um lado a história do palácio e pelo outro o porque de cada peça em cada espaço.
Acho que sem guia realmente não da para perceber tudo.
As cobras, por exemplo, foram colacadas na "salinha das mulheres", onde as damas se juntavam a "murmurar".
Na "sala de despacho" onde os homens tratavam dos negócios, está a figura das gravatas a voarem..
e por ai fora
muito giro realmente!
Essa cobra!!!! lembro-me bem dela!!!! Parece que ia saltar da mesa redonda para o nosso colo! Sim! Afiada como a má língua!!!
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