As minhas manhãs começaram há uns anos a ser (de novo) de uma profunda distracção. Voltei à minha infância em que tantas vezes (!) chegava ao colégio com os meus irmãos todos no carro e ter aquela sensação de "choque" na cabeça porque tinha calçado as pantufas. Outras vezes era uma pantufa num pé e um sapato no outro ou esquecia-me de coisas piores que não digo aqui. Era de tal maneira que a Professora começou a pôr no calendário da aula os dias em que eu não levava o material para o colégio (só fazia isso comigo! e eu não tinha outro remédio se não encaixar...). Um dia era o caderno dos trabalhos de casa, outro faltava a borracha, outro o lápis. E quantas vezes o Pai teve de voltar a casa porque eu me tinha esquecido de calçar os sapatos ou coisas piores. Depois, como ando hoje com a carteira atulhada, na altura andava com a pasta cheia de pães espalmados porque odiava a marmelada. Odiava pão com marmelada e não os comia e ficavam na pasta. Punha a pasta nas costas da cadeira e depois a pasta descia, devia-me sentar em cima dela. Não sei como era, mas andava com a pasta cheia de pães espalmados com marmelada.
Mas hoje de manhã foi pior. Pronta para sair de casa, correria dos costume (eu ando a lutar por fazer as coisas ao ritmo com que o ministro das finanças fala, mas as vitórias têm sido poucas e em ocasiões muito pontuais) e ouço o maior raspanete dos últimos tempos de um em minha casa (estou proibida expressa e taxativamente de falar sobre o mesmo): se eu me tinha visto ao espelho, que tinha vergonha de me ver assim, que parecia impossível ir nesta figura para a rua, que me fosse ver ao espelho, blá, blá, blá, blá,...Deu-me aquele "choque" inconfundível na cabeça mas não percebi. Estaria sujo? Teria algum rasgão? Nada disso.Que me fosse ver ao espelho. Mas eu não tenho tempo (disse isso mas pensei porque "não consigo ver que ainda estou a dormir em pé") Que era completamente transparente e que se notava tudo (descreve cruamente o que se notava e eu "up's!", choque electrico). E só não lhe chamou raio-X porque, pelos vistos, a transparência não chegava ao esqueleto. O resto: tudo à vista. Àquela hora da madrugada (as manhãs, para mim, são sempre madrugadas até, pelo menos, ao meio dia, mas tem dias que são até às 9 da noite, altura em que começo a acordar sempre...) começo a praguejar interiormente porque a porcaria do vestido tinha uma combinação por baixo que já vinha com ele, e porque raio me devia sequer ter passado pela cabeça que era tão transparente que só não se via o esqueleto e que os meus mais íntimos tinham ... VERGONHA ... de me ver nesta figura. Raça!
Lá vou ao roupeiro a dizer mal da minha vidinha buscar o bendito do saiote que já me tirou de mil alhadas.
Aula de cycle feita e a suar (75 minutos ininterruptos do melhor treino), já na posse das minhas faculdades mentais lá fui pensando que isto é o ... catano.
Uma mulher pode fazer figuras tristes que isso não tem grande problema e até é bom assumir os erros e ir em frente. E figuras tristas às vezes até dão vontade de rir e nada mais. Agora envergonhar os que nos são mais próximos, isso não. Isso é mesmo chato e é uma falta de justiça para com eles, para já não falar de nós próprias. Para além da perda de intimidade e de autoridade e da ordinarice que é. Logo 3 em 1! P..a!
Olho à minha volta e pergunto-me se esta gente não terá filhos ou se os anda a envergonhar. A diferença entre figuras tristes e figuras que envergonham o marido e os filhos? Fácil: as primeiras correspondem a deslises, erros de escolha, alguma falta de gosto, aceitar coisas que não nos ficam bem e por aí. As segundas não. São coisas que nos chamam "ordinária" e isso é mesmo chato. Muito chato. Para eles e para nós. Ninguém gosta de ter uma ordinária por mãe ou por mulher. Verdade que não o somos, eu sei. Mas nisto do "fardamento" para quem não nos conhece, o que parece é a ideia que fazem de nós.
Irra!
Embora lá ver o vestido que de ordinário ficou assim, à simples distância de um saiote:
Andam aí as fashion advisors a falar dos "básicos" de um roupeiro de uma mulher: blaser preto, camisa branca, saia direita, blá, blá, blá e esquecem-se dos básicos mais básicos e mais fundamentais: uma combinação (as da Calvin Klein são do melhor e a preços óptimos, no El Corte Inglés porque são cor de carne e completamente lisas, com alças ajustáveis que permitem escolher o tamanho adequado para cada vestido) e um saiote (que, para este efeito, deve ser cor de carne, completamente liso e sem rendas)! Nas lojas de roupa interior, agora às combinações, chamam-lhes "sombras". Está certo. Mas prefiro combinação porque, na verdade, o seu efeito é mesmo combinar com tudo, preservar a nossa intimidade e tornar as nossas adoráveis transparências em roupa cheia de elegância e categoria.
8 comentários:
O vestido é muito giro Isabel!
E a propósito de "combinações", noutro dia numa loja também descobri que aqueles vestidos que às vezes têm tendência a "colar" um bocadinhho ao corpo (porque são de uma malhinha de algodão mais fina, atenção, não são daqueles que já colocou aqui no seu blog, tipo "ligaduras", que para esses não deve haver remédio), ficam completamente decentes se lhes pusermos por baixo uma dessas combinações - esconde a marca da roupa interior, alisa uma ou outra gordurinha na anca (que não é o nosso caso, claaaroooo...:))e ainda fica super sexy.
Um beijinho.
Cláudia
Obrigada Cláudia! Sim! Não é o nosso caso que somos só músculo e muuuuuuuuito lisinhas! BOA! Umas mulheraças é o que nós somos.... e com o tempo.... melhor ainda!
Isabel,
obrigada pela forma como fala de moda, pela forma como aborda o bem vestir. Muitas vezes, coisa que falta nas nossas ruas e nos canais de comunicação.
Bem haja,
Mané
Mané! Uma inconfidência de amiga. Quando passei por si há dias a a vi com uma camisa masculina por baixo de um top azul escuro com uns atilhos nas costas: fiquei encantada. Quando a vi com um "saharienne" (o mítico casaco "safari" do Yves Saint Laurent) em antílope (ou camurça?) em tom de areia com umas calças brancas: fiquei encantada. Quando a vejo com uma calças de atilhos em tons terra e uma blusa branca: fico encantada. E penso sempre e invariavelmente: aqui está uma rapariga icónica que "engancharia" o meu blog a todas as mulheres deste mundo urbano e chique. É assim que eu a vejo. Um beijinho grande e obrigada sou eu pela inspiração e pelas resmas de estilo depurado e cheio de uma imensa categoria que espalha pelas ruas de Lisboa. Beijinho grande.
Isabel, relmente concordo que aprendemos sempre com os outros.
Ouvir outros a falarem assim de mim deixou-me sinceramente admirada, vaidosa e a sorrir.
A sua presença nas ruas e no blogs são de admirar, envaidecer e sorrirmos pelos alertas, opiniões e pensamentos. Parabéns.
:) :) :) !
Já lhe disse que amo de paixão essa carteira??
Rosarinho, sim! E a verdade é que me disseste quando a viste ao vivo e nem te lembravas que ela já tinha vindo aqui para o blog... É muito camaleónica e a verdade é que fica bem com quase tudo... e não parece!
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