Estou desfeita. Não consigo aceitar. Não consigo perceber. O coração parece que me dói mais do que aquilo que consigo aguentar. Passei do estado de choque para este estado de sofrimento que tomou conta de mim e que me dói mais que qualquer dor física que me podia ter calhado nesta vida. Ele era um homem na força da vida, 50 anos feitos, saúde de ferro, forma física de excelência, boa figura no seu metro e noventa de altura. E do nada foi-se deste mundo. Não era um homem qualquer. Era um homem que faz muita falta neste mundo.
E eu!!!! Eu!!!! Eu perdi, com a partida dele, uma das pessoas que mais me ajudou na minha vida, o meu Conselheiro, o meu Confessor, o meu Director, o meu Ouvinte, um dos meus canais da Graça. E hoje para lá fui, aonde o encontrava, naquele confessionário, completamente à deriva, louca, à espera de o ver ali, ou de ver a chapa com o nome dele, onde costumava estar horas!, à espera que isto não fosse mais do que um pesadelo. Mas estava vazio. Vazio. Um vazio infinito e quis entrar lá dentro, quis espernear, quis gritar, quis partir aquilo tudo. Uma das pessoas que mais me ajudaram numa fase complicada da minha vida. E, se estou aonde estou, por ele o devo. Se os meus me têm com eles, por ele o devo e por ele o devem. O meu querido, do meu coração, Padre José Afonso! E não acredito que isto tenha acontecido. Não acredito que não o encontro mais. Não acredito que quando ali for, certa de que venho com uma alma nova, força revigorada e completamente descomplicada, ele não vai lá estar.Não vai lá estar. Não vai lá estar. Nunca mais. Nunca mais. Nunca mais. Nunca mais. Só quando me passar desta é que o vou voltar a encontrar. Aqui? Nunca mais.
Também queria ter todos os conselhos que ele me deu gravados a ferro e fogo na minha alma e não tenho. Só sei que me fez chegar aqui, feliz, aonde eu estou e que é onde devo estar. Eu sei que esta vida é uma passagem, mas ele faz mais falta do que eu e eu dava agora mesmo a minha vida por ele. Sem hesitar um segundo. E não me consigo lembrar de nada do que ele me disse e só tenho à minha frente o seu olhar limpo, de uma vida de pureza, a sua figura esbelta, a sua alegria, o seu sorrido e o seu sentido positivo da vida, os seus desdramatismos,o sentido comum, a forma como desfiava os novelos da vida e me mostrava como tudo era, no fundo, tão simples porque tudo se reduz a uma questão de amor. Não há muitas pessoas assim na terra e eu não me consigo conformar e estou desfeita. Completamente desfeita. Quantos dramas da minha vida ele transformou em coisas tão simples e sempre me encheu de paz e me transmitiu um imenso afã de chegar mais alto e mais depressa, me encheu de ânimo para ser melhor e chegar mais longe. Hoje apetecia-me chegar aqui ao meu blog e pô-lo todo de negro. Mas não era isso que ele me aconselharia. Eu sei que ele me diria: continua com a vida para a frente, Não deixes de fazer o que deves e de estar no que fazes porque esse é o caminho seguro.
É isso que estou a tentar fazer, com o coração e os olhos a chorar. E as pernas a tremer. Sim a tremer. E estou a tentar e ... não consigo. Eu sei que devia, mas não consigo. Não paro de me perguntar: Como é possível isto? Como? Parece que Deus se esqueceu de estar lá naquele momento. Mas eu sei que estava. Eu sei que estava. Eu sei que estava. Tudo é para bem. Tudo é para bem. Tudo é para bem. Tudo é para bem.
E sim! Estou a pensar mal. eu sei que o vou encontrar nesta vida,enquanto eu andar por aqui. de passagem. como todos nós.