O que me acontece, de vez em quando, não tem explicação e entro no mundo do surreal.
Hoje aconteceu-me isso. Não tem explicação.
Foi em pleno Tribunal.
Era suposto falar da Mulher num blog de modas por ser hoje "dia da Mulher"? Desta vez não porque o "dia da Mulher" não me diz nada. O que me parece mais interessante é falar de mulheres e não da "Mulher".
Vou contar uma coisa insólita que me aconteceu hoje. Não sei como é que eu às vezes tenho uma lata que nem sei como é possível dizer o que digo, mas quando dou conta já saiu, voou e não a apanho. Acho que até é perigoso e às vezes chego a pontos que até me desconheço. Não vou aprofundar este tema porque depois saio daqui a pensar que sou esquizofrênica ou que tenho alguma doença assim desse estilo. Fico mais tranquila se pensar que de "louco e médico todos temos um pouco" e lá me vou safando na minha autoconsciência. Não sei se vos acontece isto, mas a mim sim. Às vezes passo-me, entro em órbita e até digo mal da minha vidinha quando me vejo em certas em que me meto. Antigamente era com polícias. É com cada cena com polícias! Agora desde que me ajudaram quando me roubaram a carteira é que eu percebi o que eles aturam e que não andam só à caça à multa de mulheres estilosas com carro
Mas hoje foi no Tribunal. Não vou contar contextos - técnicos e infinitamente maçadores - mas o que estava em causa era passar para a ata da audiência um requerimento que eu tinha feito
Diálogo (inacreditável, mas foi assim, tal e qual): eu para o juíz- Senhor Dr., temos duas hipóteses: ou eu entrego o texto que li e depois a Secretária passa para a ata ou eu dito. São só 13 páginas a letra pequenina, de tamanho palatyno 11. Estamos na Quaresma e eu preciso de fazer penitência. Aliás, precisamos todos de fazer penitência. Juíz: - Senhora Dra., eu preciso de fazer penitência mas não é desta. Eu: - Senhor Dr., pois acredito, mas isto vai ser bom porque nos vai fazer exercitar a paciência. E a propósito disto até aproveito para lhe dizer uma coisa de que se vai lembrar, que eu aprendi e que lhe vou ensinar, já que o Senhor Dr. é mais novo do que eu, embora não pareça: é que a paciência leva-nos longe.O juiz: - a mim não é a paciência que me leva longe. Eu:- então o que é? O juiz- o que a mim me levou onde estou hoje na minha vida é a humildade. Eu: - Pois é Sr. Dr., é de virtudes que estamos a falar. Juiz: - Senhora Dra., sabe uma coisa? Eu aprendo sempre com os outros e já hoje aprendi aqui nesta audiência (aquilo estava a correr para o mal e o ambiente pesado, para não dizer outra coisa...)
Bem, isto parece surreal. Mas foi assim mesmo. Tal e qual. Embora a conversa tenha depois passado por outras coisas como a palavra "encardido". Para o final da história o que conta é que correu tudo bem, o ambiente desanuviou e bem vi a cara das senhoras representantes da Autoridade Tributária (AT) de boca aberta com aquilo. E o certo é que este juiz me ensinou muito quando me disse que o que o fez chegar mais longe na vida foi a humildade. Vou ganhar este processo porque não há outra hipótese, e nesta vida perde-se mas também se ganha. Mas o juíz ensinou-me muito mais do que tudo isso: ele disse-me que o que o levou mais longe na vida foi a humildade e que aprende sempre com os outros e que aproveita todas as oportunidades para aprender. E fez-me também perceber que as virtudes estão na moda. E a cara das senhoras doutoras da AT não eram de dificuldade em perceber do que se falava. Isso não. Era perplexidade de como é que a conversa, depois de uma discussão acesa e de posições extremadas, tinha de repente chegado àquele ponto.
Hoje aprendi a lição e vou pensar dela. Foi de um juiz. Um juiz que não é juiz de carreira: é um advogado muito mediático e que, neste caso, estava a atuar como juíz árbitro porque estávamos num tribunal arbitral. Juiz estiloso, novo e bem parecido, dois filhos pequenos e bem casado (presumo pois está sempre a falar da mulher). Muito conhecido, sendo que aqui chegou pela humildade. Não um homem velho a cheirar a bafio de arquivo à espera de morte lenta (o arquivo não o juiz). E as Senhoras Dras. da AT lá me deixaram entregar o texto para ser passado à ata (não acta). E lá ficou a minha - e delas - penitência por fazer e vou procurar outra que oportunidades não falta. Por exemplo de travar a língua. Parece-me bem.
Definitivamente: as virtudes estão na moda.E nas cabeças das pessoas com quem nos cruzamos nas mais diversas situações. O motivo: todos queremos ser "um melhor eu".
Aconteceu hoje e foi num tribunal.
Kisses,
Maria
Muito bem!!! Sem papas na língua!!
ResponderEliminarQue cómico!! Quem diria que acontecem estes diálogos profundos nos tribunais portugueses!!
ResponderEliminarE acontecem outros que davam um livro inteiro.Às vezes hilariantes de chorar a rir. Outras vezes de chorar. Outras vezes de uma paciência infinita...Mas quase sempre ultrapassa a ficção.
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