27/02/2014

A dependência e o significado da nossa vida.

Hoje (que é já ontem quando escrevo) fiquei sem bateria no telemóvel. Não é a primeira vez. Também não é a primeira vez que me esqueço dele ou que não sei onde está. Hoje foi todo o dia sem telemóvel. Ninguém tinha carregador. Senti-me isolada, um bocado perdida, aflita porque não conseguiam contactar comigo, nem eu com os outros. A minha vida está toda naquele telemóvel, incluindo a agenda e os telefones dos que me são próximos. Reuniões que ficaram por marcar, telefonemas por fazer, mails por ler, marcações impossíveis de encontros porque não sei os telefones, não posso marcar hora, recados por dar, combinações por fazer, contactos agendados impossibilitados. Parecia um caos.
Em desespero de causa, percorri as lojas do Saldanha e nenhuma tinha o carregador do Iphone 5. Na última que entrei a menina com uma satisfação injustificada e um enorme sorriso nos lábios que me apeteceu mandá-la para o bilhar grande disse-me, toda contente: "vendi agora mesmo o último".
De repente senti-me dependente, adicta que nem um drogado. Senti-me mal por causa da angústia que a "porcaria" da falta de um telemóvel me faz. E apeteceu-me fazer jejum de telemóvel por uns dias. Jejum de atender chamadas sobre chamadas em todas e quaisquer situações (salvo seja...), mesmo quando tenho as mãos cheias de coisas e o telemóvel pendurado do ombro no ouvido... Jejum de internet, de e-mails, de conexão à actividade virtual, on line, às solicitações fora de horas, numa falta total de silêncio interior, espaço interior de liberdade e independência, solidão. E vi-me, de repente, precisada de solidão, independência, com vontade de fazer de monge eremita e desligar-me do mundo ruidoso que o telemóvel significa. Irrita-me ser dependente e sentir-me num enorme desassossego por causa de uma simples bateria. Sim. Eu sei. Os telemóveis já salvaram vidas e hão-de continuar a salvar. Mas também as complicam e muitas vezes tramam as relações entre as pessoas.
E lembrei-me do anúncio da Coca Cola que aqui deixo.
E, na vez do carregador do Iphone, deparei-me com umas bancas de venda de artesanato e produtos portugueses no Saldanha Monumental. De lá vim com a minha vida no meu pulso. Passou do telemóvel para o meu pulso. Com um significado infinitamente maior. São de aço, preço de revenda, mas não sei dizer a marca porque foi um senhor encantador que mas vendeu e me garantiu que posso não as tirar do pulso que continuam assim porque são de aço. E eu não as quero tirar. Porque me lembram o significado da minha vida. E porque, além disso, são bonitas e simples. E transportam-me para a beleza profunda e simples que encontro na Cruz.










1 comentário:

Anónimo disse...

Sofro exactamente da mesma dependência... É terrível!!!
Beijinhos Luísa